Em direto
Após apagão. "Todas as subestações da rede nacional repostas"

"Sentença de morte". Rússia envia general crítico do Governo para liderar combates de alto risco na Ucrânia

por Joana Raposo Santos - RTP
Os procuradores russos pediram uma pena de prisão de seis anos para o general, que foi também demitido das Forças Armadas. Foto: Evgenia Novozhenina - Reuters

O general russo Ivan Popov, demitido e detido há dois anos após ter criticado duramente o Ministério da Defesa da Rússia, vai regressar ao campo de batalha. No entanto, de acordo com a imprensa estatal, foi-lhe atribuído o comando de uma unidade Storm-Z, composta por prisioneiros recrutados para combates de alto risco no terreno. Analistas comparam a decisão a "uma sentença de morte".

Há dois anos, o major-general Ivan Popov era um comandante condecorado e elogiado pela sua liderança das tropas no sul da Ucrânia. Tudo mudou quando decidiu enviar uma mensagem de voz aos seus colegas na qual condenava superiores e criticava a direção do Ministério da Defesa.

"As Forças Armadas da Ucrânia não conseguiram romper o nosso Exército pela frente, (mas) o nosso comandante superior atingiu-nos pela retaguarda, decapitando traiçoeiramente e vilmente o Exército no momento mais difícil e tenso", afirmou na mensagem, enviada em julho de 2023.

O general disse ainda que, quando se queixou da falta de artilharia e de outras questões, "os comandantes superiores sentiram o perigo e rapidamente, num dia, inventaram uma ordem para o Ministro da Defesa, retiraram-me e livraram-se de mim".

Ivan Popov foi então enviado para a Síria para ser vice-comandante do contingente russo nesse país. No entanto, em maio de 2024 acabou por ser detido por alegada fraude, acusação que negou veementemente. Os procuradores russos pediram uma pena de prisão de seis anos para o general, que foi também demitido das Forças Armadas.

No mês passado, numa carta aberta ao presidente russo, Popov pediu que o autorizassem a regressar ao campo de batalha e descreveu Vladimir Putin como o seu "guia moral e modelo a seguir", cujo exemplo o fez "finalmente compreender o significado das lendárias palavras cabeça fria, coração quente e mãos limpas".

Na semana passada, a defesa de Popov conseguiu chegar a acordo com o Ministério da Defesa para que o general regressasse ao ativo e ficasse livre de uma eventual pena de prisão.

“Nós, juntamente com o Ministério da Defesa, apresentámos um pedido de suspensão do processo (…), com a decisão positiva de enviar o Ivan para a Operação Militar Especial”, ou seja, para a guerra na Ucrânia, adiantou o advogado Sergei Buinovsky.

Popov não vai, porém, regressar ao 58.º batalhão, no qual estava colocado antes da demissão. Segundo o jornal russo Kommersant, o general será enviado para a Ucrânia “como comandante de uma das unidades Storm-Z”, conhecidas por serem compostas essencialmente por prisioneiros recrutados para combates de alto risco no terreno.

Kateryna Stepanenko, do Instituto para o Estudo da Guerra, sediado em Washington, explicou à CNN que a missão de Popov equivale “a uma sentença de morte, já que o comando militar russo utiliza as unidades Storm-Z sobretudo em ataques frontais suicidas”.

O Kremlin tem continuado a usar prisioneiros na guerra contra a Ucrânia e, recentemente, Vladimir Putin prometeu atribuir o estatuto de veterano aos membros das unidades Storm-Z. “Vamos definitivamente resolver isso”, assegurou. “Tenho ótimos contactos, vou chegar a acordo com o Governo e os deputados”.

c/ agências
PUB